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Terapia pra ansiedade? Como, quando e porquê


A ansiedade é uma companheira familiar para muitos de nós. Em sua forma natural, ela funciona como um sistema de alerta interno, nos preparando para enfrentar desafios e nos proteger de potenciais ameaças. Essa resposta evolutiva tem seu valor, pois nos mantém atentos durante uma apresentação importante, nos motiva a estudar para uma prova ou nos ajuda a reagir rapidamente em situações de perigo real.


No entanto, existe uma linha tênue entre a ansiedade que nos protege e aquela que começa a tomar as rédeas de nossa vida. Como psicóloga que trabalha diariamente com pessoas que enfrentam diferentes níveis de ansiedade, percebo que uma das perguntas mais difíceis de responder é justamente: "quando devo buscar ajuda profissional?".


Esta pergunta carrega complexidades que vão além de uma simples lista de sintomas. Envolve nuances pessoais, contextos de vida e a própria relação que estabelecemos com nossas experiências internas. Neste artigo, quero compartilhar algumas reflexões que podem te ajudar a navegar por essa questão delicada, baseadas tanto em minha formação em Gestalt Terapia e Experiência Somática quanto na experiência clínica com pessoas que, como você, já se perguntaram se o que sentem merece atenção especializada.


A dança entre o normal e o problemático


Todos experimentamos ansiedade em determinados momentos da vida. Aquele frio na barriga antes de uma entrevista de emprego, a apreensão enquanto aguardamos resultados importantes, ou a preocupação natural com entes queridos são expressões comuns e esperadas de nossa capacidade de antecipar e nos preparar para situações desafiadoras.


A ansiedade que podemos chamar de "funcional" geralmente tem algumas características distintivas. Ela surge em resposta a situações específicas e identificáveis das quais você consegue apontar claramente o que está gerando aquela sensação. Além disso, ela tende a se dissipar naturalmente após o evento estressante passar, como a onda que se forma, quebra na praia e então recua.


Por outro lado, quando a ansiedade começa a ultrapassar esses limites, ela pode se transformar em algo que compromete, em vez de proteger. Ela pode surgir intensamente mesmo em situações cotidianas ou aparentemente sem um gatilho claro, como um alarme de incêndio que dispara sem que haja fogo. Pode persistir por semanas ou meses, não diminuindo facilmente com o tempo ou com a resolução de situações específicas.


Ela começa a interferir significativamente no seu dia a dia, seja no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, no sono ou na alimentação. E, em vez de te preparar para enfrentar desafios, ela pode te paralisar diante deles, gerando um sofrimento considerável que parece desproporcional ou desconectado das circunstâncias reais.


É nesse território que a ansiedade começa a pedir uma atenção diferenciada, possivelmente profissional. Mas como reconhecer quando chegamos a esse ponto?


Sinais que merecem sua atenção


Ao longo dos anos atendendo pessoas com diferentes manifestações de ansiedade, tenho observado alguns padrões que frequentemente indicam que a ansiedade ultrapassou o limiar do funcional. Não se trata de uma lista diagnóstica, mas de reflexões que podem te ajudar a avaliar sua própria experiência com mais clareza.


Um dos sinais mais significativos é quando a ansiedade começa a restringir a vida, criando um mundo cada vez menor. A pessoa começa a evitar situações, lugares ou atividades por causa do desconforto que provocam. Talvez tenha deixado de frequentar eventos sociais, de usar transporte público, de falar em reuniões, ou até mesmo de sair de casa em determinados momentos. Essa evitação, embora ofereça alívio imediato, tende a reforçar a ansiedade a longo prazo e gradualmente limita suas possibilidades de experiência e conexão.


Outro sinal importante aparece no corpo. Na abordagem da qual trabalho, entendemos que o corpo frequentemente expressa o que a mente ainda não processou completamente (na verdade ambos não se separam). A ansiedade persistente pode se manifestar como tensão muscular crônica, especialmente no pescoço, ombros e mandíbula, problemas digestivos recorrentes, alterações no sono, palpitações ou sensação de aperto no peito, fadiga constante mesmo com descanso adequado ou dores de cabeça tensionais.


A qualidade dos pensamentos também pode revelar muito sobre o estado da ansiedade. Certos padrões de pensamento podem dominar a consciência, impedindo o contato pleno com o momento presente. Se você se percebe constantemente ruminando sobre preocupações, mesmo quando tenta se distrair, imaginando frequentemente os piores cenários possíveis para situações cotidianas, tendo dificuldade em "desligar a mente" mesmo em momentos de descanso, preocupando-se excessivamente com eventos futuros distantes ou improváveis ou vivendo um perfeccionismo que mais paralisa do que impulsiona, estes podem ser sinais de que a ansiedade está operando em um nível que merece atenção especializada.


Para lidar com a ansiedade intensa, muitas pessoas desenvolvem estratégias que, embora ofereçam alívio temporário, podem se tornar problemáticas com o tempo. Você pode se perceber usando álcool ou outras substâncias com frequência para "acalmar os nervos", procrastinando cronicamente tarefas que geram apreensão, buscando reafirmações constantes de outras pessoas, desenvolvendo comportamentos compulsivos como verificações repetidas ou organização excessiva ou usando distrações constantes para não entrar em contato com sensações ansiosas. Esses comportamentos, embora compreensíveis como tentativas de autorregulação, frequentemente acabam alimentando o ciclo ansioso e criando problemas adicionais.


Por fim, é importante darmos especial atenção à qualidade da relação que a pessoa estabelece consigo mesma. A ansiedade problemática frequentemente afeta essa relação, manifestando-se como autocrítica excessiva e diálogo interno negativo constante, sensação persistente de inadequação ou impostura, dificuldade em reconhecer e validar as próprias emoções, sensação de estar "desconectado" de si mesmo ou do próprio corpo ou vergonha intensa relacionada às próprias reações ansiosas.


Quando a ansiedade compromete sua capacidade de estar presente consigo mesmo de forma compassiva, isso indica uma interrupção importante no contato que pode se beneficiar do trabalho terapêutico.


O que a terapia pode oferecer


Se você se reconheceu em vários aspectos que mencionei, talvez esteja se perguntando o que a psicoterapia poderia oferecer. É importante entender que buscar ajuda profissional não significa fraqueza ou falha pessoal mas, pelo contrário, é um ato de autocuidado e coragem que demonstra compromisso com seu bem-estar.


A psicoterapia oferece um espaço seguro e confidencial onde você pode explorar sua experiência de ansiedade com alguém treinado para compreender seus mecanismos e ajudá-lo a transformar sua relação com ela. Não se trata apenas de "eliminar" a ansiedade (algo que nem sempre é possível ou mesmo desejável) mas de desenvolver uma nova forma de estar com essa experiência, uma forma caracterizada por maior compreensão, flexibilidade e escolha consciente, o que, de certa forma, acaba transformando todos os sintomas e desconfortos.


Em minha prática como psicoterapeuta, integrando Gestalt Terapia e Experiência Somática, trabalho com uma abordagem que honra tanto os aspectos psicológicos quanto corporais da ansiedade. Isso significa que, além de explorar pensamentos, emoções e comportamentos, também damos atenção às sensações físicas, aos padrões de tensão, à respiração e às respostas do sistema nervoso. Essa abordagem integrativa reconhece que uma transformação genuína envolve a pessoa como um todo.


O processo terapêutico geralmente inclui compreender as raízes da sua ansiedade: os padrões, gatilhos e origens que podem não estar evidentes para você inicialmente. Também envolve desenvolver recursos internos de autorregulação, que são ferramentas práticas para acalmar o sistema nervoso e interromper ciclos ansiosos antes que escalem.


Um aspecto fundamental é transformar sua relação com a experiência ansiosa, passando de uma luta constante para uma abordagem mais compassiva e integrativa, que reconhece a ansiedade como uma parte de você que está tentando comunicar algo importante, ainda que de forma desajeitada.


A reconexão com o corpo é outro elemento crucial, especialmente na abordagem somática. Muitas pessoas com ansiedade crônica desenvolvem um padrão de desconexão corporal como forma de evitar sensações desconfortáveis. Aprender a reconhecer e responder aos sinais corporais antes que a ansiedade escale é uma habilidade valiosa que pode ser desenvolvida no processo terapêutico.


Por fim, a terapia ajuda a expandir sua capacidade de estar presente, desenvolvendo maior flexibilidade para navegar por diferentes estados emocionais sem ser dominado por eles.


Dando o primeiro passo


Reconhecer que sua ansiedade pode estar pedindo atenção profissional é um passo importante e corajoso. Se você identificou vários dos sinais mencionados neste artigo, considere buscar uma avaliação inicial com um psicólogo ou psiquiatra. Essa primeira conversa pode ajudar a clarificar o que você está vivenciando e quais caminhos podem ser mais adequados para você.


Lembre-se de ser gentil consigo mesmo nesse processo. A ansiedade não é falha de caráter ou fraqueza e sim uma resposta humana que, em determinadas circunstâncias e por razões complexas, pode se tornar desproporcional ou disfuncional. Assim como não hesitaríamos em buscar um médico para uma dor física persistente, não devemos hesitar em buscar ajuda para o sofrimento emocional.


A ansiedade tratada adequadamente pode se transformar de um obstáculo em uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento. Com o suporte adequado, é possível desenvolver uma relação mais consciente e fluida com estados ansiosos, expandindo sua capacidade de estar presente mesmo em momentos desafiadores e, ultimamente, vivendo uma vida mais plena e conectada.


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Clara Naschpitz é psicóloga clínica com formação especializada em Gestalt Terapia pela PUC-Rio e terapeuta em Experiência Somática pela Associação Brasileira do Trauma. Atende adultos online e presencialmente em Niterói, com foco em questões relacionadas a ansiedade, trauma e relacionamentos.

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